Genética e Transtorno Obsessivo-Compulsivo



A princípio, é necessário ressaltar que é de grande importância tratar do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) – o quarto transtorno psiquiátrico mais comum, de acordo com a Organização Mundial da Saúde –, uma vez que no nosso cotidiano ele é, por vezes, banalizado e até alvo de piada. Dada a recorrência da patologia, nos parágrafos que se seguem, haverá a tentativa de fazer uma revisão da bibliografia sobre o tema, para que fique evidente a influência da hereditariedade. No entanto, o objetivo do trabalho como um todo é a tentativa de focar no desenvolvimento do TOC nas fases da adolescência e infância.
Sob esse prisma, é impossível tratar das especificidades do transtorno obsessivo-compulsivo sem a luz da Genética. As pesquisas mais atualizadas nos mostram, dessa forma, que o fator genético tem grande importância para o estudo das causas do TOC, apontando que é frequente a existência de TOC e TOC subclínico (caso em que os sintomas estão presentes, porém não atrapalham a vida da pessoa) nos familiares dos pacientes.
            A literatura referente ao assunto, por sua vez, costuma enfatizar os estudos, que buscam as causas do transtorno, em gêmeos, uma vez que os gêmeos monozigóticos (MZ) compartilham 100% dos seus genes. Os dizigóticos (DZ), contudo, compartilham entre si cerca de 50% dos genes, semelhante ao que acontece com irmãos de diferentes gestações. Nesse contexto, os estudos sobre gêmeos, de acordo com Rasmussen e Tsuang (1996), como foi citado por Pato et al (2001): “relataram taxas de concordância MZ na faixa de 53% a 87% e DZ de 22% a 47% para o TOC, com variabilidade decorrente de diferentes critérios de diagnóstico.”. Mostrando, assim, que esses gêmeos compartilham genes que estão ligados ao desenvolvimento do transtorno obsessivo-compulsivo.
            Além disso, para que se possa entender como a genética é importante para compreender as causas do TOC, faz-se necessário destacar os estudos com a família. Dessa maneira, os estudos eram em sua maioria realizados analisando a frequência da patologia na família daqueles que são afetados e comparando com a frequência no histórico familiar daqueles não afetados, considerando também os casos de TOC subclínico. A partir desse quadro, as pesquisas de Lenane et al (1990), conforme estudado por Gonzalez (2001), apontam o risco de desenvolver o transtorno quando se há um histórico familiar é de 35%, sendo esse número dividido em 25% do pai, enquanto 9% vinha da mãe e, por sua vez, 5% dos irmãos. Além disso, também o artigo de Gonzalez (2001, p. 3 apud NICOLINI, 2001; CAVALINI, 1999) faz observações acerca dos padrões de transmissão:
Nicolini et al. realizaram um estudo com 24 famílias de pacientes com TOC e concluíram não ser possível excluir um modelo de transmissão autossômica recessiva. O modelo mais compatível e provável foi o de transmissão autossômica dominante com penetrância de 80%.
Os padrões de transmissão de 107 famílias de pacientes com TOC foram estudados por Cavalini et al. Concluíram que o modelo de transmissão mais compatível seria o autossômico dominante com penetrância maior nas mulheres.
(GONZALEZ, 2001, p. 3)

Ademais, a autora também reforça que na infância, a taxa de meninos que desenvolvem a patologia é maior que a de meninas. Na adolescência e fase adulta, contudo, esse número fica equilibrado.
Além disso, quando estudado em crianças e adolescentes, os resultados apontaram que, quanto mais cedo o indivíduo passa a possuir sintomas obsessivos compulsivos (SOC) do TOC, maior influência geneticamente terá para os familiares. Conforme apontado por Rosario-Campos (2001, apud PAULS, 1995):    “Em relação à heterogeneidade das amostras, acredita-se que quanto mais precoce é o início dos SOC nos pacientes, maior o risco de morbidade para TOC entre os familiares.”. Dessa forma, é necessário ressaltar que é substancialmente importante que estudos dessa patologia sejam feitos levando em conta também as fases da vida em que o transtorno obsessivo-compulsivo é desenvolvido, uma vez que a adolescência e infância, por sua vez, possuem peculiaridades. Entretanto, Campos (2001) esclarece que o Transtorno Obsessivo-Compulsivo se apresenta de forma análoga nas diferentes fases do desenvolvimento. Portanto, talvez esse seja o motivo da literatura não se mostrar, em sua maioria, especializada em tais fases.
Outrossim, a obra de Gonzalez (2001) também traz contribuições em relação aos genes do sistema serotoninérgico e dopaminérgico. A esse respeito, a autora correlacionou estudos do transtorno obsessivo-compulsivo com o gene responsável por codificar a proteína transportadora 5HT (5HTT), associando a uma das causas do TOC ao polimorfismo. Em relação ao sistema dopaminérgico, os estudos da área relacionam o TOC a tiques, ao citar o estudo de Cruz et al (1997), a autora reforça: “as variações genotípicas do DRD4 poderiam contribuir para uma variabilidade no fenótipo do TOC com e sem tiques”, apontando para a hipótese que entre aqueles que possuem o transtorno com e sem tiques têm subtipos genéticos diferentes.”.
Portanto, fica evidente que o campo da genética é deveras importante para que possa se fazer uma compreensão maior acerca dos transtornos mentais, em especial do TOC. É, ainda, imprescindível destacar que compreender o histórico familiar do indivíduo é essencial para um atendimento psicoterápico de maior qualidade, além de ter grande importância a presença da família nesse processo, principalmente quando os pacientes são crianças e adolescentes. Dessa forma, faz-se necessário mais pesquisas acerca das causas do transtorno obsessivo-compulsivo envolvendo os campos da Genética e da Psicologia, bem como da Psiquiatria.


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