Espectro autista: um olhar para os aspectos neurofisiológicos
Por Adrielle Davino
O autismo é um assunto amplo e complexo, há “pouco tempo” se iniciou os estudos a respeito, na década passada, mas já é possível identificar inúmeros caminhos que guiam para o melhor diagnóstico. O presente trabalho tem alguns artigos como base, que serão citados para uma maior compreensão do assunto.
É consenso dos autores na área afirmar que os indivíduos com esse transtorno possuem comportamento e interesses restritos, repetitivos e estereotipados, adotam uma rotina permanente, apresentam restrição numa área de interesse, podem insistir bruscamente em algo e ainda, podem apresentar anormalidades na postura. Como citado anteriormente, são várias as possíveis causas do autismo. Porém, entre as mais aceitas hoje, desperta grande interesse nos pesquisadores da área neurológica, no qual os sintomas e mutações genéticas são resultado de alguma falha de comunicação entre regiões do cérebro. (Mertens e França, 2011, p. 108) Há alterações neurológicas em áreas como: o cerebelo, a amígdala, o hipocampo, giro do cíngulo, corpo caloso, tronco cerebral e outras estruturas.
Inicialmente, pode-se observar a formação típica de um ser humano. No desenvolvimento embrionário há três fases: Endoderma, mesoderma e ectoderma. Na ultima fase, por meio da migração neuronal, que se têm a formação de diversas partes do sistema nervoso, onde a migração em si é responsável pelo movimento das células e seu destino. Isto em um desenvolvimento típico, paralelo a isso em um desenvolvimento atípico, como nos autistas, essa migração neuronal acontece, mas pode ter alterações decisivas que modificam as células envolvidas neste processo.
Um estudo das alterações anátomo-funcionais do SNC de pacientes autistas e relatam alterações cerebrais como o aumento da espessura do córtex do lobo frontal 4, dos lobos temporais, parietais e occipital 18 e a baixa reprodução celular nos hemisférios cerebrais 19. Foram descritas ainda, alterações do corpo caloso, do giro cíngulo, das olivas bulbares e do IV ventrículo (13, 15, 20, 21). (Mertens e França, 2011, p.111)
O médico austríaco Leo Kanner foi o primeiro a descrever o autismo em 1943, em um artigo chamado “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo”. Falava do distanciamento das relações da criança autista e sua mãe, colocando a “culpa” nos pais dos filhos ter esta condição. Por anos foi assim que se pensou, mas em 1960 estudos mostravam alterações no sistema nervoso central que estavam por trás do autismo. Além disso, muitos outros estudos foram feitos e encontraram várias áreas fisiológicas, biológicas que originavam sintomas e características especificas de pessoas no espectro autista.
O autismo é uma síndrome que apresenta várias denominações, entre elas o TGD (transtorno global do desenvolvimento), TID (transtorno invasivo do desenvolvimento), TEA (transtorno do espectro autista), entre outros.
A Ressonância Magnética estrutural é hoje em dia aplicada para diagnosticar anomalias cerebrais que podem estar subjacentes a vários transtornos de neurodesenvolvimento, o que contribui para uma melhor compreensão das relações entre o cérebro e o comportamento durante o desenvolvimento infantil normal e anormal. As principais estruturas cerebrais que foram relacionadas ao autismo incluem o cerebelo, a amígdala, o hipocampo, o corpo caloso e o cíngulo. Embora esses achados envolvam o sistema límbico e o cerebelo, poucos dados de RM ajudaram a explicar o envolvimento neocortical no autismo.
Existem anormalidades do lobo temporal, localizadas nos sulcos temporais superiores bilateralmente, sendo está uma importante região para a percepção de estímulos sociais. Ainda, estudos funcionais envolvidos com a percepção social demonstram hipoativação na percepção de faces e cognição social. Outra região cuja função está relacionada ao social e ao emocional é a amígdala, apontada por desempenhar um importante papel em estudos de neuroimagem e compreender as bases neurobiológicas do autismo. (Mertens e França, 2011, p. 109) Estas áreas relacionadas a estímulos sociais essenciais, quando prejudicadas levam ao contexto do nosso trabalho, quando alguns indivíduos do espectro apresentam essas modificações vão ter dificuldades nas relações familiares, por exemplo, em compreender o que a mãe fala, compreender as atitudes que precisa ter em determinadas situações e para isto é necessário total preparação dos pais para lidar com esta condição, para compreender as limitações e agir de formas diferentes no momento do diálogo e buscar profissionais da medicina para compreender cada limitação.
Inicialmente se acreditava que o lobo temporal fosse importante apenas para a percepção dos sons. Estudos mais detalhados mostraram, porém, que tanto o sulco temporal superior como outra área do lobo temporal, o giro fusiforme, estavam envolvidos no processamento de dois tipos de informações relevantes para as interações sociais. Eles captam informações auditivas, sobre a voz do interlocutor, e visuais, como os movimentos dos olhos, os gestos e as expressões faciais, processam-nas e as distribuem para outras áreas cerebrais associadas às emoções e ao raciocínio lógico. (Zorzetto, 2011)
Nesta mesma matéria o autor cita uma criança do espectro que assistiu o filme Peter Pan e acreditou que o capitão gancho era bom, por que disse “Vou cuidar bem de você”, mas ele não percebeu que era de forma irônica, o mal funcionamento desta área não permite perceber a intenção verdadeira de quem fala, tanto no campo visual como no auditivo. A primeira autora brasileira a estudar o autismo, Monica Zilbovicius, chegou a conclusão que alterações nessas áreas comprometiam diretamente a interação social.
O autismo é complexo por não apresentar delimitações biológicos claras, o diagnóstico ainda é baseado em critérios comportamentais, apesar de as pesquisas sobre o tema estarem avançando, ainda há uma grande dificuldade de compreensão, mesmo assim, a forma que ocorre o diagnostico hoje é apontando o melhor caminho ao individuo.
Verificou-se que as pessoas autistas podem apresentar uma significativa redução no número de células de Purkinje no cerebelo, tendo um efeito, principalmente, nos hemisférios do córtex neocerebelar posterolateral e no córtex archicerebelar adjacente. (Mertens e França, 2011, p. 109) A redução dessas células é negativa pois elas são responsáveis por transmitir impulsos nervosos até o cerebelo, sendo responsável pelos reflexos e pelos movimentos dos indivíduo.
REFERÊNCIAS
MERTENS, Priscila; FRANÇA, Carlos. “Causas Neurológicas do Autismo”. O Mosaico - Revista de Pesquisa em Artes da Faculdade de Artes do Paraná. Disponível em: http://periodicos.unespar.edu.br/index.php/mosaico/article/viewFile/19/pdf Acesso em: 10 de Janeiro de 2020.
ZOZERTTO, Ricardo. “O Cérebro no Autismo”. Revista de pesquisa FAPESP – Edição 184. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/2011/06/16/o-c%C3%A9rebro-no-autismo/ Acesso em: 10 de Janeiro de 2020.
SANTOS, Fabiana. “Cerebelo”. Matéria no site INFO ESCOLA. Disponível em: https://www.infoescola.com/anatomia-humana/cerebelo/ Acesso em: 10 de Janeiro de 2020.
ZILBOVICIUS, Mônica; MERESSE, Isabelle; BODDAERT, Nathalie. “Autismo: neuroimagem”. Rev. Bras. Psiquiatr. vol.28 São Paulo Maio 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462006000500004 Acesso em: 10 de Janeiro de 2020.
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