Fatores genéticos e hereditários poderiam exercer influência sobre a genialidade?

Outro ponto de caráter biológico que ganhou destaque no estudo da genialidade foi a hereditariedade. Até onde fatores genéticos poderiam influenciar nas notáveis capacidades intelectuais de alguém?

Bom, primeiro é necessário destacar que alguns estudos sobre o cérebro humano e sua plasticidade afirmam que a genética raramente tem algo a ver com a inteligência. O psicólogo Anders Ericsson, da Universidade do Estado da Flórida, em Tallahassee, reafirma essa assertiva. Ericsson passou cerca de vinte anos estudando sobre gênios, prodígios e outras inteligências superiores em diversos campos, como o esporte, as artes, a ciência etc. Segundo esse cientista, as características especiais que diferem pessoas de capacidade superior não são herdadas, a base verdadeira é sempre a “vontade de ir além dos limites e se superar”.

Ainda assim, não são raros os pesquisadores que associam a genialidade com a genética. Por que isso acontece? Bem, com tantos casos de famílias que alcançaram feitos considerados “geniais”, foi fácil admitir e aceitar que a alta capacidade intelectual viesse do “berço”. Podemos citar como exemplo o caso da pesquisadora francesa Irène Curie, filha do casal de físicos Marie e Pierre Curie, nessa família, mãe, pai e filha são ganhadores do Prêmio Nobel. Outro exemplo seria o de Stephen Hawking, cujo pai era um médico pesquisador interessado por diversas áreas além da medicina. Ou ainda a família britânica Huxley: o patriarca Henry Huxley foi um dos cientistas mais influentes da Inglaterra no século passado, seu neto Andrew Fielding ganhou o Prêmio Nobel de Medicina, e seu outro neto, Aldous Huxley, foi o autor de um dos mais célebres clássicos da literatura: a obra “Admirável Mundo Novo”.

Lewis Terman, eugenista e psicólogo defensor da inteligência inata, também cativado pela incógnita presente quanto ao que formaria os gênios e crendo que a inteligência seria “coisa da genética”, trabalhou em um estudo cujo objetivo era detectar e acompanhar “crianças excepcionais”. Seu estudo se tornou a maior pesquisa longitudinal da história. No entanto, algo curioso ocorreu: a sua pesquisa apresentou resultados distintos de sua hipótese. O que aconteceu? Terman estudou mil e quinhentas pessoas, estas demonstravam “habilidades especiais” na infância, porém, não as mantinham quando adultas. De maneira que suas características “excepcionais” não dependiam simplesmente de um fator genético. Nesse sentido, a presença da genialidade em um indivíduo seria resultado da influência de um conjunto de fatores, como a própria desenvoltura dos pais, o ambiente em que crescera e a valorização da atividade intelectual da criança, no entanto, a medida assertiva de cada um desses fatores ainda se encontra como uma incógnita. 

Terman é claro, não foi o único a acreditar que a genética poderia ter influência sobre os ditos “gênios”. Muitos outros pesquisadores passaram a estudar a genialidade e a inteligência a partir de uma perspectiva genética, a fim de encontrar os fatores genéticos que influenciariam nessas qualidades. Entre eles, o mais famoso é o psicólogo e geneticista Robert Plomin, do Instituto de Psiquiatria de Londres, que produziu alguns estudos relacionando genética e inteligência. Em um desses estudos, Plomin afirmou ter conseguido isolar o primeiro gene relacionado à inteligência humana, o gene IGF2R, localizado no par de cromossomos número 6 e denominado “gene da inteligência”, ele compõe um grupo de genes que atuam conjuntamente. Sua descoberta se deu através da análise do DNA de amostras de sangue extraído de crianças na escola especial de verão da Universidade Estadual de Iowa, nos Estados Unidos. Tais crianças foram submetidas a um teste de ingresso na universidade, no qual ficaram entre o 1% de candidatos que tiveram pontuação mais elevada. 

Já para a bióloga gaúcha Eni Viñolo, da Universidade Católica de Porto Alegre, há um fator, insuspeitado para os leigos, que após anos de estudo ela considera “importantíssimo” para um melhor desenvolvimento cognitivo: a capacidade do organismo de absorver proteínas, substâncias essenciais para o sistema nervoso. Esse fator, transmitido geneticamente, faz com que certas pessoas consigam assimilar mais nutrientes do que outras, beneficiadas é claro, por uma quantidade maior de alimento. 

Além disso, outra característica importantíssima presente na genialidade que passou a ser alvo de pesquisas genéticas é a criatividade. Um estudo realizado no departamento de psicologia da California State University, nos Estados Unidos, demonstrou que a criatividade é determinada pelos genes. Para a psicóloga evolucionista americana, geneticista comportamental e co-autora do estudo Nancy Segal, a criatividade, como a maioria dos comportamentos, é determinada por fatores genéticos e ambientais, sendo afetada por diversas influências diferentes. No estudo, analisou-se irmãos gêmeos criados em ambientes diferentes, comparou-se a criatividade de cada indivíduo e descobriu-se que 50% dessa criatividade é efeito genético, ou seja, os gêmeos apresentaram as mesmas capacidades criativas, mesmo sendo criados em ambientes diferentes. Para os pesquisadores, metade da capacidade criativa dos gêmeos independerá da criação recebida por cada um deles, pois essa criatividade será semelhante graças a questões genéticas.

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