Motivações individuais, um para individualidade e suas relações

Será lançado agora o olhar fenomenológico como recurso para buscar a essência do fenômeno consumo do álcool entre os universitários. Ademais, se faz necessário salientar que será utilizado casos específicos como base. Logo, são recortes. Dessa forma, através dos relatos recolhidos, será possível vislumbrar algumas das motivações que levam os universitários a consumirem pela primeira vez ou, até mesmo, prosseguirem fazendo o uso do álcool.

Segundo dados do IBGE, mais de 8,9 milhões de pessoas com mais de 18 anos têm o hábito de ingerir de uma a duas doses de álcool por dia. Sendo assim, cabe mencionar que os universitários constitui uma grande parcela devido às variáveis estressantes que o ambiente acadêmico propícia. Dito isso, seguem abaixo alguns relatos recolhidos.

K. S, Jovem universitária, 19 anos

Quais foram às motivações que te levaram (ou não) a experimentar alguma bebida alcóolica?
Foi o convívio social. Eu tinha uns 11/12 anos tava no aniversário de uma amiga de uma grande amiga minha, com quem convivia muito, aí todos estavam bebendo e nós( eu e minha amiga) estávamos bebendo refrigerante. Só que aí inventaram uma batida de maracujá, e eu vi elas indo comprar alguma bebida pra fazer, mas, sei lá, eu nunca tinha visto aquilo e, sei lá, nem fez sentido pra mim que aquilo era álcool, bebi uns dois copos, depois não quis mais. Mas também não senti nada.

Uma segunda vez, provei cerveja, tinha por volta dessa idade anterior e tava passando na casa de uma tia que tinha um filho que tinha um bar. Eu adorava ir lá ficar com meus primos, e tava descobrindo as paqueras também e queria ser vista. Um dia o namorado da minha prima foi pra casa dela e de lá fomos pro bar do pai dela, onde tava um amigo dele muito bonito, e eles eram muito legais. Começaram a beber e me oferecer e eu dizia que não podia, se minha mãe descobrisse me matava, mas eles continuaram insistindo e minha prima também. Até que bebi, bebi uns dois copos de cerveja e meus pais apareceram pra me levar pra casa. Fomos pra casa de moto e eu fui quase sem respirar pra eles não perceberem. Eles não perceberam e eu não senti nada. Mas achei tudo aquilo muito estranho, faz muito tempo, mas não lembro daquilo como bom. E nunca mais provei.

Olhar fenomenológico: Segundo V.S, o convívio social foi responsável por sua experiência. Além disso, ela ressalta que o reforço social também contribuiu, pois ela ansiava em ser tida como alguém agradável e, consequentemente, causar uma boa impressão, ou seja, ela agiu de acordo com o seu self ideal que é o "conjunto das características que o indivíduo mais gostaria de poder reclamar como descritivas de si mesmo”. Contudo, essa experiência não foi tida como algo bom. Neste relato, é possível observar que V.S agiu de forma que fosse possível suprir sua necessidade de estima: de si e dos outros, pois, Segundo Maslow, o indivíduo  é impulsionado de acordo com suas necessidades que se manifestam em graus de relevância onde as fisiológicas são as necessidades iniciais  e as de realização pessoal são as necessidades finais. 

O que te leva a continuar (ou não) consumindo bebidas alcóolicas?
O principal motivo acho que é a reprovação moral constante por parte da minha mãe. E também os constantes exemplos de bêbados que eu tive durante toda a vida. Sempre tive muito medo de pessoas bêbadas. Sempre as vi como pessoas fora de si. Não gosto do cheiro, nem do que pode ser causado por causa dele. Soma-se a isso, que vi meu pai umas 3 vezes bêbado e fiquei bem assustada, sendo que uma vez ele se envolveu numa briga. E depois passou muito mal, passando a noite vomitando. E aquilo foi muito traumático pra mim. 

Também sinto muito medo do vício, de só achar sentido no álcool. De achar bom e me viciar. Ou de ser tudo o que não quero ser por causa dele. Hoje sinto vontade de beber, pra saber como é mesmo. Só que a vontade aumenta em momentos de tensão, e tenho medo disso. Fora que sempre sou a da turma que não bebe, e todo mundo sabe. E não tenho coragem de dizer que quero provar. E mais medo ainda de gostar ou dos efeitos.

Olhar fenomenológico: De maneira análoga, porém realizando um movimento contrário, o reforço social também foi um dos responsáveis pelo o não prosseguimento do consumo do álcool. 

“A internalização dos valores de outras pessoas (significativas) resulta na alienação do nosso   próprio processo de valorização do organismo”

Diante disso, é válido mencionar que nossa contribuidora estabeleceu razões fortes para o não prosseguimento, pois por meio da vivência dela com pessoas que ela  valorava, ela se viu diante do receio de ficar viciada, ou seja, perder o controle. Além disso, ela revela que tem vontade de fazer o uso novamente, mas por medo de não agir de acordo com as expectativas das pessoas, ela se faz hesitante.


N. B, jovem universitário, 18 anos

Quais foram às motivações que te levaram (ou não) a experimentar alguma bebida alcóolica? O que te leva a continuar (ou não) consumindo bebidas alcóolicas?
    A primeira vez que eu me lembre de ter bebido álcool foi numa viagem com um grupo de alunos da minha escola e com minha professora orientadora, pois viajei para apresentar um projeto numa feira de iniciação científica. O meu contato com a bebida foi em situações criadas pela tal professora para nos integrar e acho que isso que me levou a consumir. Eu estava longe de casa e me senti um tanto livre, mas com uma certa segurança, já que estava sobre a responsabilidade da professora, em quem eu confiava e confio. Até hoje, eu bebi poucas vezes. Algumas vezes foi por conta da minha mãe ter perguntado se eu queria provar pra ver se gostava, e eu não gostei. Outras duas vezes foi em momentos de integração com colegas do ensino médio. Ou seja, eu não tenho um consumo frequente. Passo vários meses sem beber, não sinto falta, e só consigo beber coisas que não têm gosto de álcool( bebidas doces, por exemplo). Eu tenho um sentimento de tristeza quando penso na dependência, e não quero isso pra mim. Não vejo sentido em beber pra me divertir, necessariamente, mesmo porque nunca ultrapassei o meu limite e experimentei coisas do tipo “falta de timidez por completo”. Já experimentei uma certa alegria, mas não me vejo de forma consigo experimentar esse sentimento com outras coisas.

Olhar fenomenológico: segundo. S, ele fez o uso pela primeira vez com o intuito de se integrar. Além disso, ele revela que se sentiu seguro, pois havia uma pessoa, que ele tinha em alta conta, como respaldo. Ademais, ele prossegue dizendo que tem sentimento de tristeza quando pensa na bebida com o viés da dependência. Logo, esse sentimento é um dos fatores que o faz consumir somente em momentos de integração. Por fim, ele deixa claro que já  vivenciou  momentos de alegria com o uso da bebida, mas que se acha plenamente capaz de experimentar algo similar sem que haja o consumo. 

Por meio de tais relatos é possível compreender que em alguns casos as motivações estão ligadas ao reforço social, aos momentos de tensão suscitados pelo ambiente acadêmico, a necessidade de se sentir integrado. Enfim, fica visível que há várias variáveis. Logo, é uma vivência única para cada pessoa, mesmo havendo pontos similares, pois cada indivíduo atribui um significante diferente. Bom, a premissa básica da abordagem centrada na pessoa é que o ser humano é essencialmente confiável. Desse modo, os relatos recolhidos foram utilizados com o intuito de compreender melhor os fatores que poderá levar ao consumo do álcool. 

Comentários

Postagens mais visitadas