Psicossociais e Transtorno Obsessivo-Compulsivo


Transtorno Obsessivo-Compulsivo é uma patologia que muitas vezes não é associada à doença, por ser banalizada e avaliada como mania. Nesse contexto, as interações sociais são afetadas, pois há um padrão de comportamento esperado por parte da sociedade, gerando repercussões negativas para com o portador. 
Em primeiro lugar, o transtorno é muito comum na infância e especialmente na adolescência, tendo um impacto muito grande nessas etapas, por serem períodos críticos e de desenvolvimento, podendo afetar severamente a rotina da pessoa que o possui. Exemplo  disso, é o relato de caso presente no artigo de Polia (2015) "TERAPIA OCUPACIONAL CAPACITANTE: Relato, percepções, enfrentamento e inclusão de um indivíduo com TOC no meio acadêmico", em que a pessoa com a doença descrevia que desde a infância tinha pensamentos obsessivos de acidentes e tragédias; e comportamentos incomuns, como arrumar prateleiras do supermercado por se sentir incomodada com a falta de simetria, além de outras arrumações sem fim e também conferências que comprometem todo seu dia. Com o tempo, juntamente com o aumento das suas obrigações, os sintomas foram se intensificando, fazendo com que só o dia não fosse suficiente para suas obsessões e compulsões, passando assim, a utilizar-se das madrugadas. Ainda na adolescência, casou-se e teve três filhos, o que a fez ganhar ainda mais obrigações e consequentemente seus sintomas pioraram, afetando grandemente sua relação familiar. Dessa forma, torna-se notório que o TOC é um transtorno mental grave, que afeta fortemente as relações do indivíduo, causando sofrimento psíquico.          
Em segundo lugar, além de precisar lidar com o TOC, as crianças doentes são mais predispostas a apresentarem transtornos psiquiátricos comórbidos, acarretando ainda mais sofrimento para elas.  Isso pode estar associado à dificuldade de interação social, pois a criança ou adolescente tem medo de demonstrar os sintomas de TOC, resultando em uma autoexclusão para não transparecer que existe um problema. No artigo "O transtorno obsessivo-compulsivo na infância e adolescência" publicado na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul aborda a seguinte pesquisa:
Um estudo com 96 crianças e adolescentes, verificou que pelo                             menos 74% delas preenchiam critérios para pelo menos uma comorbidade. O número de comorbidades se correlacionou negativamente com os resultados da TCC. A presença de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), depressão maior e transtorno do comportamento disruptivo teve um impacto negativo na resposta ao tratamento, que não foi afetado pela presença de tiques. Outro estudo com 75 pacientes crianças e adolescentes verificou que 36% delas tinham um ou mais diagnósticos em eixo I; 10,7% apresentavam depressão, 9,3% apresentaram tiques, 6,7% transtorno do espectro do autismo, 4% Síndrome de Tourette; 2,7% transtorno alimentar, 2,7% Transtorno Desafiador Opositor (TOD), 2,7% outros transtornos de ansiedade, e 2,7% transtorno de ansiedade de separação. (BORTONCELLO et al, 2014, p. 11). 
É importante também ressaltar como essas crianças lidam com o TOC em um ambiente educacional, pois muitas vezes elas se sentem diferentes das outras por executarem as tarefas de forma mais rígida e precisa, enquanto seus colegas não prestam muita atenção. Esse quadro pode gerar um sentimento de vergonha, de incapacidade de conter seus sentimentos, o que faz com que a criança acabe por repreender sua personalidade na tentativa de se encaixar no meio social escolar. Outrossim, existem casos no qual ocorre uma exclusão por parte da própria pessoa, uma dificuldade de interação, em alguns casos por medo. Por isso é necessário que os pais acompanhem diariamente os seus filhos, pelo fato de que quanto antes se tem um diagnóstico preciso, mais fácil de lidar com o transtorno fica. 
Pode-se, então, relacionar esse afastamento no meio social com um dos fatores para o desenvolvimento de comorbidades, logo que a criança ou adolescente passa a ter uma vida solitária e percebe que todos a sua volta consegue relacionar-se, notando assim, negativamente, o seu comportamento atípico. Isso influencia na construção da personalidade, o que pode gerar conflitos no futuro. Dessa maneira, é explícito como a doença contribui negativamente para o desenvolvimento da criança e do adolescente, podendo afetar fortemente a construção do self dos mesmos, pois esse está relacionado com a formulação do autoconceito, ou seja, a forma como o indivíduo se enxerga, que pode ser influenciada grandemente pela forma que a sociedade o vê. 
Outra questão importante é o olhar da sociedade para aquele com a doença, muitas vezes influenciado por estereótipos que excluem pessoas com comportamentos atípicos. Nesse cenário, é comum pessoas com o transtorno pararem de frequentar ambientes importantes como a escola, além de ser muito comum que elas se tornem vítimas de bullying, pelo fato de seus colegas não conseguirem compreende-los por conta da sua idade e pelo pouco conhecimento sobre o assunto. Exemplo disso, são crianças com a patologia que se recusam a usar banheiros públicos e, até mesmo, a serem tocadas por terceiros por não conseguirem confiar no grau de higiene de outra pessoa, por consequência os demais não os compreendem e os julgam, podendo assim gerar comentários ofensivos e atitudes de exclusão para com o portador.
Além do mais, não é somente no ambiente escolar que isso ocorre, o meio familiar também é afetado, por muitas vezes não conseguirem acompanhar a rotina do portador e não terem as devidas informações para oferecer suporte. Além de se tornar difícil a convivência, como relatados pelos filhos de uma pessoa afetada no artigo de Polia (2015) "TERAPIA OCUPACIONAL CAPACITANTE: Relato, percepções, enfrentamento e inclusão de um indivíduo com TOC no meio acadêmico", no qual eles afirmam ter comportamentos incoerentes com a sua realidade para se adaptarem às condições oferecidas pela mãe, o que gerava desentendimentos e descontentamento, não somente os seus filhos como o marido também estava insatisfeito com a situação. 
Destarte, é imprescindível a atenção para as pessoas com TOC, haja vista que o transtorno é muito banalizado por ser comparado a manias e tiques. Com isso, faz-se importante uma maior conscientização sobre a doença, por se tratar de um transtorno mental grave que afeta fortemente a vida da pessoa, e causa grande sofrimento psíquico. Ademais, a expansão do conhecimento pode melhorar as relações sócias, além de poder atentar o diagnóstico, o que poderia diminuir o tempo de sofrimento do indivíduo.



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