Ser-no-tempo: a subjetividade do envelhecer

As modificações biológicas decorrentes da senilidade se evidenciam com o aparecimento de rugas, cabelos brancos, declínio da capacidade do organismo; as fisiológicas estão relacionadas às alterações das funções orgânicas, já as modificações psicológicas ocorrem quando, ao envelhecer, o ser humano precisa adaptar-se a cada situação nova do seu cotidiano.

Na fase da velhice, o indivíduo dispõe de muitos aprendizados adquiridos ao longo da vida, dessa forma, há um forte agir do tempo sobre a pessoa, visto que, o homem é um ser-no-tempo, ou seja, constrói-se a partir de suas vivências e, além disso, é um ser-com-os-outros pois se constitui a partir das relações que experiencia por meio das quais realiza suas maneiras de viver e, portanto, de ser-no-mundo (OKUMA, 1998).

Para Rogers (1985) o sujeito constitui a noção de autoconceito com base nas experiências vividas. Nesse sentido, apresenta-se como um dos fatores primordiais as divergências entre o eu real (aquilo que ele realmente é) e o eu ideal (aquilo que ele deseja se tornar). Assim, as transformações pelas quais o idoso passa podem afastar esses dois aspectos do self, que é uma parte do campo fenomenal onde estão as percepções que formam nosso autoconceito, afetando-o de forma negativa a sua autoestima. 

O envelhecer é vivido de modo diferente de um indivíduo para o outro, de uma geração para outra e de uma sociedade para outra.  Muitas pessoas acham difícil aceitar os sinais da velhice, pois esse processo, em nossa sociedade, ganha os contornos de um estereótipo negativo, e esses estereótipos abalam muito mais quando são internalizados pelo self. Isso fica evidente na fala da entrevistada: "Envelhecer é ruim. Eu não posso andar sozinha. Para mim, a melhor parte em ser idosa é que quando a gente chega em um local as pessoas dão suas vagas." (T.P.F.B, feminino, 83 anos, aposentada).

Por outro lado, quando são focalizadas as histórias de vida, surgem imagens bem mais positivas da velhice e do envelhecimento. Mesmo com a presença de perdas e incapacidades, há aqueles que atribuem à velhice aspectos positivos e felizes. Pois, o convívio familiar com filhos e netos, bem como a autonomia para realizar as atividades, torna-se prazeroso. O próprio Rogers (1983) preocupou-se com uma busca de sentido para o envelhecimento, quando se percebe repleto de desafios que instigam o desenvolvimento de suas potencialidades. Tal perspectiva é retratada na seguinte fala: "A melhor parte da velhice é a experiência de vida que se adquire. Algumas coisas que eu fazia na juventude já não faço mais. Tem que buscar equilibrar essa situação, e é por isso que eu pratico exercício físico" (M.R, feminino, 60 anos).

O desenvolvimento de um autoconceito realista está relacionado diretamente com o encorajamento recebido de pessoas significantes. Por isso, é importante que a família incentive o idoso a realizar novas atividades no sentido de promover a autorrealização, permitir que ele faça suas próprias escolhas, sendo responsável, dessa forma, pelas mudanças que acontecem em sua vida. Ao ser perguntada sobre a busca por novas práticas, compromissos sociais e se recebe o incentivo da família, M.R. relatou: 

Costumo vir ao parque municipal todos os dias para praticar minhas atividades físicas, porque é importante para a saúde e a qualidade de vida, né? Com a idade, a gente precisa se cuidar mais. Minha família me incentiva sim, mas não saio muito de casa. Também faço terapia, pois o que mais me afeta, na verdade, não é nem tanto a idade, mas a depressão.

Desse modo, o ser idoso, antes de tudo, é alguém que precisa ser compreendido em sua subjetividade e integrado na sociedade como uma pessoa ativa e não como alguém que já está no fim do desenvolvimento humano.

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