Genética da TPM

Toda essa oscilação hormonal implica em sintomas físicos e/ou psíquicos no período menstrual. Muito mais que "mimimi de mulherzinha", está relacionado à causas genéticas.

A síndrome pré-menstrual (SPM) caracteriza um conjunto de sintomas encontrados em cerca de 75% a 80% de mulheres em idade reprodutiva, sintomas estes emocionais, cognitivos e físicos relacionados ao seu ciclo menstrual. Tais sintomas, são comuns durante a fase lútea (última fase) do ciclo menstrual e afetam o desempenho social, ocupacional e sexual. Quando estes sintomas são mais intensos, desequilibrando as vidas social, familiar e/ou profissional durante uma a duas semanas de cada mês, caracteriza-se transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM) (DSM-IV), é um transtorno do humor relacionado ao sistema endócrino reprodutivo e a taxa de mulheres atingidas está entre 2% e 8% (Valadares et al, 2006). Esse sofrimento constitui um problema de saúde pública, com consequências significativas nas áreas pessoal, econômica e de equidade para as mulheres afetadas e para a sociedade.

A severidade do SPM e do TDPM está ligada a uma sensibilidade às concentrações de estrogênio e progesterona (Schmidt et al. 1998), essa sensibilidade aparenta ter uma base genética. Tais influências genéticas nos sintomas pré-menstruais foram examinados usando estudos de gêmeos na Austrália, EUA e Reino Unido, através desses estudos foi possível concluir estimativas de herdabilidade entre 30 e 80%. Outros modelos genéticos quantitativos usando gêmeos da Malásia e do Irã sugeriram que a variação genética foi responsável por 95% da variabilidade observada nos sintomas da TPM, enquanto fatores ambientais únicos foram responsáveis pelos 5% restantes (Jahanfar et al. 2011). Os sintomas e sua intensidade variam conforme o local genético.

O fenótipo expresso da TPM e da TDPM apresenta uma sensibilidade à variação nas concentrações de hormônios durante ciclo, já que os níveis de progesterona, estrogênio e testosterona não mudam entre indivíduos com alto ou baixo risco de TPM. A partir disso, foi sugerido que a TPM surge através de uma interação entre hormônios e variantes de receptores ou neurotransmissores (Mortola 1996; Dickerson et al. 2003 ). Os locos candidatos prováveis incluem aqueles com papéis na recepção de estrogênio e progesterona (Cunningham et al. 2009), ou genes para receptores de neurotransmissores, particularmente serotonina, pois o uso intermitente de inibidores seletivos da recaptação de serotonina pode melhorar os sintomas da TPM (Dimmock et al. 2000).

Quando ocorre uma queda dos níveis de hormônios ovarianos na fase lútea, principalmente de estrogênio, pode afetar a atividade da serotonina central. Consequentemente, polimorfismos nos genes que regulam a atividade serotoninérgica são pontos a serem estudados para elucidar uma base genética para a TPM. Análises de polimorfismo no gene do receptor de serotonina 1A (HTR1A) mostram que o TDPM está associado ao polimorfismo G / G HTR1A (rs6295). Isso leva sugerir que as consequentes quedas na neurotransmissão serotoninérgica podem ser responsáveis por alterações pré-menstruais na memória de trabalho e no controle cognitivo em mulheres com TDPM (Yen et al. 2013).

As variantes no promotor do gene transportador de serotonina têm efeitos na expressão da molécula transportadora de serotonina 5-HT. As variantes do promotor estão associadas ao neuroticismo, depressão, transtorno afetivo sazonal e talvez ao TDPM (Praschak-Rieder et al. 2002), porém é necessário replicações desse estudo. Outros neurotransmissores também já foram investigados, assim, como polimorfismos no gene da esteróide-5-alfa-redutase, alfa polipeptídeo 1, que podem proteger as mulheres contra SPM grave.

É ainda provável que os determinantes genéticos do SPM e do PMDD envolvam múltiplos locais que afetam a produção, transporte e recepção de hormônios sexuais e neurotransmissores. Nessa área, estudos sobre a herança genética, polimorfismos e sequenciamento de DNA mais detalhados são necessários para que seja esclarecido o fator genético da SPM e sejam fornecidas bases científicas para o tema.


REFERÊNCIAS:
Dickerson LM, Mazyck PJ, Hunter MH. Premenstrual syndrome. American Family Physician. 2003;67:1743–1752.

Dimmock PW, Wyatt KM, Jones PW, O'Brien PM. Efficacy of selective serotonin-reuptake inhibitors in premenstrual syndrome: a systematic review. Lancet. 2000;356:1131.

Cunningham J, Yonkers KA, O'Brien S, Eriksson E. Update on research and treatment of premenstrual dysphoric disorder. Harvard Review of Psychiatry. 2009;17:120–137.

Huo L, Straub RE, Roca C, et al. O risco de distúrbio disfórico pré-menstrual está associado à variação genética na ESR1, o gene alfa do receptor de estrogênio. Biol Psychiatry . 2007; 62 (8): 925–933. doi: 10.1016 / j.biopsych.2006.12.019

Gillings MR. Houve vantagens evolutivas na síndrome pré-menstrual ?. Evol Appl . 2014; 7 (8): 897–904. doi: 10.1111 / eva.12190

Van Den Akker OBA, Eves FF, Stein GS, Murray RM. Fatores genéticos e ambientais no relato de sintomas pré-menstruais e sua relação com a depressão e um traço geral de neuroticismo. Jornal de Pesquisa Psicossomática. 1995; 39 : 477-487.

Schmidt PJ, Nieman LK, Danaceau MA, Adams LF, Rubinow DR. Efeitos comportamentais diferenciais dos esteróides gonadais em mulheres com e naquelas sem síndrome pré-menstrual. New England Journal of Medicine. 1998; 338 : 209-216.

Jahanfar, S., Maleki, H., & Mosavi, A. R. (2004). Leptina e sua associação com a síndrome dos ovários policísticos: um estudao. Gynecolgical Endocrinololgy, 18, 327-334.

Mortola JF. Síndrome pré-menstrual. Tendências em Endocrinologia e Metabolismo. 1996; 7 : 184-189.

Praschak-Rieder N, Willeit M, Winkler D, Neumeister A, Hilger E, Zill P, Hornik K, et al. Role of family history and 5-HTTLPR polymorphism in female seasonal affective disorder patients with and without premenstrual dysphoric disorder. European Neuropsychopharmacology. 2002;12:129–134.

Yen J-Y, Tu H-P, Chen C-S, Yen C-F, Long C-Y, Ko C-H. The effect of serotonin 1A receptor polymorphism on the cognitive function of premenstrual dysphoric disorder. European Archives of Psychiatry and Clinical Neuroscience. 2013 DOI: 10.1007/s00406-013-0466-4.

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